terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

SOBRE O MENINO MAGNO...



Magno é um cara de família humilde, simples, como a minha e da maioria das pessoas de meu bairro. Ele morava com seus avós,na casinha amarela perto da Praça, e foi ali na Praça da graminha, que passamos grande parte da infância. Eu não era muito chegado a ele, não muito, mas conversávamos assim de leve. Ele era o menino mais intrépido da sala na época de escola, dono das encrencas, batia em muitos alunos indefesos (inclusive em mim) e aprontava muitas das suas travessuras particulares dentro da nossa sala.
Porém Magno não era feito só de tramas diabólicas, ele tinha um dom, (ou dois), primeiramente é que ele era diferenciado, jogava, muita, mas muita bola! O menino magricelo de pernas finas, era um risco nas quadras da redondeza, não era pequeno em meio aos garotos de maior idade, ele encarava mesmo.  E também digo que brincar de pique - esconde com ele, era perda de tempo, de tão franzino e miúdo,ninguém,ninguém mesmo era capaz de encontrar Magno num emaranhado de arvores ou arbustos, garoto camaleônico,sempre pensei que ele tinha o poder de se camuflar até mesmo no chão.
Na maioria das vezes Magno só chegava perto de mim para me dar um safanão ou me agarrar pelo pescoço, era raro o dia em que não me fazia chorar na sala de aula, levei esta vida da primeira série do Ensino Fundamental, até o oitavo ano antes do ensino médio, a diferença é que da sexta série até a oitava, eu já não chorava por mais que me desse vontade.
Com tudo Magno também me deu alegrias, quando jogava toda quarta e sexta ao seu lado ,sempre ganhávamos o jogo, lembro quando ele driblou o time adversário todo e deu um passe com o gol vazio para mim, tipo assim, faz o gol é seu, foi o meu primeiro gol no clube, daí em diante já não tinha tanto medo dele, pois sabia que por trás dos 99% de travessuras continha 1% de sentimento.
Na oitava série fiquei sabendo que a mãe de Magno havia fugido de casa, pois o pai se envolvia com drogas, e que fazia de sua casa um local nada agradável para uma criança viver, assim talvez me dei por entendido, soube sem querer o por que de todos aqueles anos de revolta, talvez, estivesse ai o problema, talvez...
Na entrada do Ensino Médio perdemos contato, a vida nos proporcionou caminhos muito diferentes fui para uma escola e Magno para outra, lá encontrou outras amizades e assim trilhou o caminho mais fácil. Depois poucas vezes o vi andando pelas ruas do bairro e o garoto foi ficando cada vez mais distante. Em um passado recente soube que Magno estava preso, tudo por que começou a usar e repassar entorpecentes, sua avó que morava na casinha amarela perto da Praça se mudou para bem longe, nem sei onde.
Muitos anos atrás das grades, este era o momentâneo destino de Magno. Pensei e pensei e me lembro que ele um dia disse, “Quando crescer quero ser jogador de futebol” talvez este sonho esteja se frustrando a cada dia.
Por que disse tudo isto? Bom hoje me encontrei com Magno, esta livre, e em um dos meus caminhos, vinha em minha direção, ainda é franzino, pequeno, porém em mim uma diferença, eu não senti medo dele, talvez na época em que ele aprontava na escola, fosse mais feliz. Magno não me disse oi, eu também não disse, ele apenas sorriu, eu também, lembrando do meu primeiro gol no clube. Ele está com o corpo coberto de tatuagens, ainda anda em más companhias e talvez ainda utilize os entorpecentes, porém vê-lo me remeteu a todas as lembranças antes perdidas, e sim, para mim foi bom saber que Magno ainda está vivo.


 

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